"O Caminho do Mar de Espanha" era uma via que surgiu entre o antigo arraial do Cágado na zona leste da serra da Mantiqueira em Minas Gerais e o de N.S. de Sant'Anna de Sebolas, no Rio de Janeiro. Atualmente, no lado mineiro, o antigo arraial do Cágado é o conhecido municipio de "Mar de Espanha", e no lado fluminense, o arraial de Sebolas se transformou em Sant'Anna de Tiradentes, que atualmente é o distrito de "Inconfidencia", pertencente ao municipio de Paraiba do Sul.
É importante resgatar a lembrança dessa via para o contexto da historia do Brasil, uma vez que, parte dela será inundada pela represa ora em construção entre o municipio mineiro de Chiador e o distrito fluminense de Anta pertencente ao municipio de Sapucaia.
"O Caminho do Mar de Espanha" surgiu da necessidade que os habitantes do arraial do Cágado e cercanias tinham para seguir em direção ao Rio de Janeiro, sem ter de passar pela vila da Paraiba, desse modo, encurtando a distancia do percurso.
O adensamento populacional da região, aumentou consideravelmente após à expedição de alvarás de posse de terra lavrados desde a gestão do capitão general de Minas, D. Rodrigo José de Menezes.
A partir de 1781, após incursão pelos sertões de leste da serra da Mantiqueira ou "zona da mata", o jovem governador então com 28 anos de idade, percebeu a necessidade de legalizar a situação de habitantes clandestinos naquelas terras. Tais nucleos, desenvolviam atividades de garimpo, assim como, cultivavam roças de subsistencia e criação. Pela lei vigente havia invasão dos "Sertões Proibidos", denominação dada pela coroa aquelas imensas áreas de florestas não cartografadas e ainda desconhecidas. A proibição era inerente ao contrabando de ouro, algo indesejavel aos interesses da metrópole, alem do alto custo da cartografia dada as dimensões da colonia.
Diante das circunstancias; constatando a inexistencia de ouro D. Rodrigo Menezes não perdeu tempo; antes mesmo de pedir autorização a D. Martinho de Mello e Castro - ministro do Conselho Ultramarino em Lisboa - determinou ao jovem corregedor Luis Beltrão de Gouveia e Almeida, a expedição de alvarás de posse de terras em beneficio daqueles que tinham condição de pagar os serviços de cartografia e laborar a terra. De uma tacada o governador determinava a ocupação do território e incorporava novos pagadores de tributo à capitania.
Nessa época já haviam garimpos clandestinos alem da margem direita do rio Paraiba do Sul em terras fluminenses. O fato seria constatado na gestão seguinte, no ano de 1786, ocasião em que foi aprisionado o bando chefiado por Manoel Henriques o "Mão de Luva". A região da captura foi nos antigos sertões do Macacú onde está localizado o atual municipio de Cantagalo.
Entre 1781 e 1783 foi edificado na margem do "Caminho Nôvo", um posto de guarda (depois Registro do Paraibuna) por determinação de D. Rodrigo Menezes. Isso deveu-se ao fato de Tiradentes ter descoberto em suas diligencias, um atracadouro de canoas no local, que ficaria conhecida como "Porto do Menezes", uma alusão ao governador D. Rodrigo. O porto em questão ficava pouco a jusante do encontro das águas do rio Preto com o Paraibuna. Atualmente é possivel observar o local por acesso através de uma antiga fazenda de café de nome Cambuí, no atual município mineiro de Simão Pereira.
A chegada do Governador à região, tendo Tiradentes como chefe de sua escolta, deveu-se as informações que chegaram à Vila Rica dando conta da descoberta de ouro no rio do Peixe. Desse modo, pode-se verificar, que tanto a leste, como à oeste do "Caminho Novo", já haviam grupos de habitantes clandestinos ocupando vastas extensões de terra da capitania de Minas.
Nessa ocasião o vice reinado com sede no Rio de Janeiro designou o capitão Inácio de Sousa Werneck para uma incursão na margem direita do Rio Preto, zona de fronteira entre Rio e Minas. Após a verificação e constatação da existencia apenas de nativos, recebeu o capitão a incumbencia de pacificar os indios na região. Desse modo, surgiu o aldeamento de Valença, onde ele recebeu sesmarias e onde se fixou seu genro João Pinheiro de Sousa, então recem casado em Sacra Familia do Tinguá, com sua 8ª filha Isabel Maria. Dessa união, nasceria Peregrino D'América Pinheiro Werneck, o visconde de Ipiabas, primo irmão de Antonio Luis dos Santos Werneck, que na banda leste da Paraiba (Bemposta) a partir de 1837, se tornaria o maior produtor de café dentre todo o clã Werneck.
Após a gestão de D. Rodrigo José de Menezes, com quem Tiradentes mantinha uma relação recíproca de admiração e apreço, veio governar a capitania de Minas, D. José da Cunha Meneses, que logo ficaria conhecido como o "Fanfarrão Minésio". Homem de baixa estatura moral e notório corrupto, Cunha Menezes levaria a capitania de Minas a uma situação administrativa caótica. Com o descontentamento do extrato social pagador de tributos, se desencadearia o movimento que os historiadores de Minas denominaram de "Inconfidencia Mineira".
Verdadeiramente, o Alferes Joaquim José da Silva Xavier deixaria a farda após sua volta a Vila Rica, mas seu repudio ao governador Cunha Menezes e a desilusão com a coroa, surgiram quando ele ainda atuava em terras fluminenses. Especialmente na vila da Paraiba, Tiradentes mantinha grande contato com seus conhecidos de Minas que haviam mudado para a região fluminense. Nas missas dominicais na capela de Sant'Anna de Sebolas ou de São Pedro e São Paulo da Paraiba, ele encontrava os mais próximos amigos e conhecidos. Exercitava tambem a pratica odontologica ao longo do "Caminho Novo", desse modo, conquistava novos amigos, angariando grande popularidade.
Sua contemporanea e mais jovem Mariana Jacinta - nascida na fazenda do "Ribeirão dos Cavalos" na aplicação de N.S. da Piedade do Rio Grande, frequentava o arraial dos Prados e a vila de São José levada pelos pais em visita a parentes - habitava na fazenda do Mato Grosso casada com o capitão Antonio Barroso Pereira.
Na vila da Paraiba, dentre outras familias oriundas de Minas, havia a presença do coronel Luiz Alves de Freitas Belo (avô do duque de Caxias) que deixara a comarca do rio das Mortes com toda a familia. Sua esposa D. Ana Quitéria Joaquina de Oliveira era irmã de dois inconfidentes que iriam para o degredo em 1792. Inacreditavelmente, Bernardina Quiteria de Oliveira, uma das filhas de D. Ana Quitéria, viria a se casar com o delator de Tiradentes, o coronel Joaquim Silvério dos Reis, não bastasse a tragédia com seus tios, o coronel Francisco de Oliveira Lopes e o padre José Lopes de Oliveira. Ambos sucumbiram, em Bié na Africa e no cárcere da fortaleza de São Julião da Barra em Lisboa respectivamente.
Ainda na serra fluminense, Tiradentes manteve amizades com inumeras outras pessoas que tinham ligações familiares com seus pares de Minas. Especialmente em Sacra familia do Tinguá e na vila de N.S. da Conceição do Alferes. Dessas ligações surgiu a grande amizade com Antonio Ribeiro de Avellar, sobrinho neto do capitão mor Francisco Gomes Ribeiro, que foi avô materno do capitão Inácio de Sousa Werneck, tambem seu amigo. O capitão Gomes Ribeiro foi o fundador do engenho de N.S. da Posse no ano de 1736, cujas ruínas da capela erguida por ele, se encontram no atual distrito de Xerém pertencente ao atual municipio de Caxias, na margem do que foi o "Caminho Novo" de Garcia Rodrigues Paes (1709/1724).
Houve um outro Francisco Gomes Ribeiro, o "Môço", que era sobrinho homonimo do capitão mor, e foi testamenteiro deste. O "Môço", foi rico comerciante na freguesia de N.S. do Pilar do Iguaçú, quando financiou a edificação do engenho do Pau Grande, o maior que existiu na Paraiba. A empreitada foi realizada por seus sobrinhos, os irmãos José Rodrigues da Cruz e Antonio Ribeiro de Avellar.
É importante ressaltar que, o nome familiar Gomes Ribeiro Avellar é oriundo de Santana da Carnota - termo de Alenquer - patriarcado de Lisboa, diferentemente do Avellar e Almeida, cuja origem é açoriana e se fixou posteriormente em Vassouras.
Antonio Ribeiro da Cruz, filho de José Rodrigues da Cruz, veio a se casar com Leonarda Maria de Rezende, natural do arraial dos Prados. Ela era filha do cel. Severiano Ribeiro, natural de Loures, patriarcado de Lisboa e de D. Josefa Maria de Rezende, natural da freguesia dos Prados. D. Josefa era irmã inteira de João de Rezende Costa, e sua filha Leonarda, era prima irmã do filho homonimo do citado. É desse ramo que descendeu o marques de Valença, parente do 1º barão de Entre Rios.
João de Resende Costa, pai e filho, foram para o degredo após o veredito dos autos da devassa; eram primos de Mariana Jacinta de Macedo, nessa altura, mãe de Magdalena Maria (1789) e Antonio Barroso Pereira (1792 -futuro barão de Entre Rios).
Foi da criação de cavalos para abastecer a demanada das tropas, que o arraial tomou a denominação. Das cercanias do arraial dos Prados, originou-se a raça denominada Campolina, apurada em Lagoa Dourada, por descendentes da familia Rezende Costa, tronco de uma das tres "ilhoas" de Minas Gerais.
O casal Leonarda e Antonio tiveram oito filhos, sete nasceram na freguesia de N.S. da Conceição do Alferes (Paty).
Após o falecimento de Leonarda, Antonio Ribeiro da Cruz se casaria com Joaquina Maria de Rezende, tambem natural do arraial dos Prados e filha de D. Ana Joaquina de Rezende, que era tambem irmã inteira de João de Rezende Costa, o pai. Desse segundo matrimonio nasceram mais dez filhos.
Com a contribuição da genealogia, é possivel entender, como Tiradentes viveu no territorio fluminense e compreeder a origem de suas fortes ligações fluminenses, especialmente em Sebolas. Quanto a dita "Inconfidencia", não se restringia apenas a capitania de Minas Gerais, uma vez que, no ocaso de sua atividade militar, Tiradentes ainda transitava livremente no Rio de Janeiro. Em terras fluminenses, ele estabelecera articulações, que seriam de suma importancia nos desdobramentos do movimento após sua volta à capitania de Minas. Seu principal contato no Rio de Janeiro foi com o riquíssimo comerciante Antonio Ribeiro de Avellar, aqui já citado.
Após a morte de Avellar, sua viúva e alguns de seus filhos, deixaram o Rio de Janeiro para habitarem no engenho do "Pau Grande", onde ele jamais residira. Sua ruina finaceira veio a ocorrer após seus depoimentos favoraveis a Tiradentes conforme consta nos "Autos Devassa" .
Ainda na ativa servindo como Alferes, Tiradentes varreu toda a região do vale do rio Cágado no rastro de assaltantes e de garimpos clandestinos. Na margem do Paraiba em direção leste, encontrou novamente marcas de penetração de gente que demandava à margem direita do Paraiba. Em função disso, surgiria o denominando "Porto Novo do Cunha", alusão ao então governador Cunha Menezes, que atualmente se constitui no municipio mineiro de Alem Paraíba. Certamente, Tiradentes não capturou o "Mão de Luva", mas foi dele o mérito das verificações que evidenciaram o rastro do famoso forasteiro aprisionado em 1786.
Habitando na fazenda do "Mato Grosso" em Sebolas desde 1784, o capitão Antonio Barroso Pereira e sua jovem esposa Mariana Jacinta tocavam a propriedade. Mantinham correspondencia com os familiares em Piedade do Rio Grande, arraial dos Prados e cercanias da vila de São José, alem de interagirem com os mineiros parentes ou não, que tambem haviam demandado as proximidades do arraial de Sebolas. Havia amizade com habitantes locais oriundos de outras paragens do Rio de Janeiro, como o caso dos proprietarios da fazenda Sebolas, cuja sede se localizava defronte à capela de N.S. de Sant'Anna onde eram realizadas as missas dominicais.
Próximo do arraial ficava o posto de guarda da "Pampulha", que possuia ampla e confortavel sede que servia de pousada para autoridades em transito entre o Rio e Minas. No andar terreo, no frontispicio da sede, havia um magnífico oratório, típico do século XVIII. Do lado externo assistiam a missa servidores civis, como ferreiros e escravos diversos, assim como, furriéis e soldados. O andar superior era restrito as autoridades civis e militares em transito. Na comunhão, eram utilizadas duas escadas laterais de belo acabamento em jacarandá que davam acesso interno, desse modo, as pessoas que comungavam, desciam para o oratório por um lado e depois subiam pelo outro, onde acompanhavam o culto com vista para o altar.
Foi para o posto da Pampulha, ponto terminal do "Caminho do Mar de Espanha", que veio do Rio o despojo de Tiradentes após sua morte no cadafalso em 1792. Seu quarto esquerdo foi erguido e exposto exatamente no centro do antigo arraial de Sebolas, onde não era necessário montar guarda no local, uma vez que, mesmo a pé, vinte minutos era o tempo gasto entre o antigo posto da Pampulha e o centro do arraial.
Em N.S. de Sant'Anna de Sebolas, Tiradentes teve a única parte de seu despojo a ter sepultamento digno, o quarto esquerdo superior. Desde então, o lugar passou a ser conhecido como Sant'Anna de Tiradentes. E ainda hoje, o antigo arraial é lembrado como Sebolas, apesar do distrito atual ser oficialmente denominado Incofidencia.
O sepultamento foi realizado na capela de Sant'Anna, em comovente cerimonia a qual compareceram maciçamente habitantes das freguesias próximas e distantes de Sebolas. Quanto ao suposto romance com D.Anna Mariana Barbosa de Matos, que depositou a urna com o despojo do martir debaixo do altar da antiga capela, tudo não passa de lenda. Ela o fez em solene missa dominical, com a ajuda de seus filhos Leandro e José Antonio, que removeram o despojo salgado que havia sido suspenso em grosso bambú, entre sua residencia e a capela de Sant'Anna.
José Antonio Barbosa era o filho mais velho de D. Ana Mariana Barbosa, que curiosamente, receberia anos mais tarde a alcunha de "capitão Tira Morros". Apelido dado por reconhecimento e amizade do então regente D. João, que por capricho da história, decidira em Lisboa a sentença de morte do grande amigo dos habitantes do arraial de Sebolas, o inesquecivel Tiradentes.
Homem de extraordinária capacidade de trabalho alem de responsavel, honesto e justo, José Antonio Barbosa encorporaria ao seu nome o apelido real. Passaria a assinar Cel. José Antonio Barbosa Tira Morros. Ele faleceria no ano de 1834, um ano após a morte de Mariana Jacinta, com quem ele se casara depois da morte do capitão Antonio Barroso Pereira ocorrida antes de 1803.
No ano de 1789, nascia Magdalena Maria Pereira, a unica filha do capitão Antonio e Mariana Jacinta. Na europa, eclodia a revolução francesa que influenciaria no Brasil os ideais do movimento "Iluminista", que reforçaria os anseios de liberdade aqui sentidos desde a independencia da América inglesa ocorrida em 1776.
No crepusculo de 1789, o desembargador Antonio Barroso Pereira, sobrinho homonimo do capitão Antonio, terminava seu trienio como 8º Intendente dos "Negócios de Diamantes da Coroa" no Tejuco, em Minas. Ele tinha como fiscal de sua gestão, seu amigo e compadre Luis Beltrão de Gouveia e Almeida, que fôra o corregedor aqui citado na gestão de D.Rodrigo José de Menezes entre 1781 e 1784. Eram fraternos amigos desde os tempos de estudantes de direito na universidade de Coimbra, desse modo, ambos possuiam mentes "Iluminadas". Eram juristas bafejados pelo movimento que emanara da França e se espalhara por toda a Europa. Contudo eram juristas que compreendiam a condição de suditos da coroa portuguesa, que os distinguia com cargos de elevada confiança, colocando-os novamente juntos, como responsaveis pelos negocios de diamantes do reino de Portugal.
O desembargador Antonio Barroso Pereira, que acabara de ser pai do 3º filho Joaquim, encontrava embaraços com o novo governador de Minas que tentava remover suas imunidades inerentes ao seu cargo em meados de 1789. O desembargador era acusado de fazer parte da sedição pelo fato de haver oferecido fuga do distrito diamantino ao padre Oliveira Rolin, um notorio sedicioso e traficante de ouro.
Diante da implacavel perseguição do governador José Luis Furtado de Mendonça - visconde de Barbacena - o 8ºIntendente recebeu o apoio do vice-rei D. Luis de Vasconcelos e Sousa, seu sobejo aliado. Mesmo sendo tio do governador de Minas, D. Luis se despediria do 8º Intendente, que então voltava para Portugal em fins de 1789, devendo se explicar ao regente D. João, uma vez que, a rainha D. Maria I já se encontrava acometida de demencia.
Luis Beltrão de Gouveia e Almeida se tornou 9º Intendente no Tejuco; na ocasião, ele enviou precatorio, confirmando outro anteriormente remetido por seu antecessor, reiterando a manutenção da prisão de Joaquim Silverio dos Reis na ilha das Cobras por lesa a real fazenda.
O inquerito instaurado por D. Luis de Vasconcellos e Sousa, que prendeu Tiradentes em 1789, através de denuncia feita no Rio por Joaquim Siverio dos Reis, somente seria encerrado em 1792, quando foi determinada a sentença dos reus. Tiradentes foi o unico a morrer enforcado porque se tornara reu confesso, livrando desse modo, os demais companheiros da pena máxima. E certamente por tal circunstancia, o regente D. João, que era homem piedoso, relutara por dois anos, até que sentenciasse a pena de todos os envolvidos na sedição.
O desembargador Antonio Barroso Pereira que em 1790 matriculara os tres filhos brasileiros no "Colégio dos Nobres" de Lisboa, fôra promovido a desembargador de agravos na metrópole. Nos anos seguintes, tornou-se pai de outros tres filhos portugueses: José que se tornaria jurista, João, que recebeu o nome do avô paterno, e Francisco, agraciado com o nome do bisavô, que foi o pai do capitão Antonio Barroso Pereira, dono da fazenda do Mato Grosso em Sebolas.
Após seu trienio como 9º Intendente, Luis Beltrão de Gouveia e Almeida passou a exercer o cargo de corregedor no tribunal da Relação no Rio de Janeiro, ao tempo em que se viu envolvido no caso "Silva Freire". Tudo por conta da afirmação do então vice rei (1790-1801), José Luis de Castro o conde de Resende, que o acusara de ser pedreiro livre e jacobino.
Tal acusação não redundou em consequencia alguma, e Beltrão de Gouveia acabou por ser nomeado por portaria real para ocupar a presidencia do dito tribunal, cargo mais importante de um magistrado no vice reinado. Possivelmente nessa ocasião, teria surgido a oportunidade para o requerimento de concessão de alvará de posse de terras na banda leste da vila da Paraiba na margem fluminense do "Caminho do Mar de Espanha". As sesmarias requeridas pelo capitão Antonio Barroso Pereira envolviam o vasto territorio entre as margens direita dos rios Piabanha e Preto, desde São José da Serra Acima, até o encontro do primeiro com as aguas do Paraiba. E desse ponto, até o alinhamento com o morro de São João, marco da futura vila de Anta. O território compreendia ainda, todo o vale do rio Calçado, e a demarcação na margem direita do Rio Preto fechando o perímetro.
O capitão Antonio Barroso Pereira não viveria para desbravar tamanho territorio, o que somente iria começar a ocorrer, após o luto de dois anos de sua jovem viuva Mariana Jacinta, que se casaria com o vizinho José Antonio Barbosa, o futuro capitão "Tira Morros".
No ano de 1805, o casal recem constituído iniciaria a edificação de uma grande sede de fazenda próxima do lugar denominado "Portões", na margem do "Caminho do Mar de Espanha". O lugar está situado no lado leste dos contrafortes da serra do "Mundo Novo". No lado oposto, encontra-se o atual distrito de Alberto Torres, por onde a antiga via atravessava o rio Piabanha, indo na direção do posto da Pampulha em Sebolas, seu destino final.
Certamente o capitão José Antonio Barbosa acabaria por assinar os livros de concessão das terras com alvarás ofertados por Luis Beltrão de Gouveia e Almeida em função de seu casamento com Mariana Jacinta de Macedo, então viuva do capitão Antonio Barroso Pereira.
A margem fluminense do "Caminho do Mar de Espanha" ganharia então imensa importancia regional. Alem de ser a primeira via a surgir após a "variante Proença", seria utilizada tambem, como base da ocupação do vale do rio Calçado e escoamento do produto das novas lavouras de café ali estabelecidas.
Antes mesmo de ocupar a chefia, Luis Beltrão de Gouveia e Almeida teria participado como membro do "Conselho Régio" na extrategia para fomento da cultura cafeeira no vale do Paraiba, através da determinação do plantio das primeiras mudas de café, utilizando as terras marginais do "Caminho do Mar de Espanha"na banda leste da Paraiba. A área era altamente extratégica devido a logística ideal para transporte do produto das lavouras pioneiras dada a proximidade e acesso facil ao Rio de Janeiro. Somado a isso, já havia povoamento no lado mineiro do dito caminho, fato que promovia boas condições para o sucesso do plantio e transporte de café na margem esquerda do Paraiba.
É grande o mérito de Luis Beltrão de Gouveia e Almeida, considerando-se que ele fôra o corregedor em 1781, desse modo, conhecedor profundo da região, tendo portanto, influido decisivamente quanto a concessão dos alvarás de posse de terras em favor do capitão Antonio Barroso Pereira na margem fluminense do "Caminho do Mar de Espanha".
No ano de 1816, com o falecimento da rainha D.Maria I, o regente se tornava rei de Portugal, Brasil e Algarves, com o título de D. João VI. No ano seguinte, ele mesmo assinaria a concessão dos alvarás de posse das terras de Entre Rios ao jovem Antonio Barroso Pereira e a irmã deste, ambos enteados do capitão "Tira Morros". Antonio que servira no batalhão dos Dragões de Vila Rica, fundaria as fazendas do Cantagalo, Cachoeira e Rua Direita. Sua irmã fundaria as fazendas Boa União e Piracema. Ele venderia então a sua metade que herdara da fazenda da Bemposta, que dividira em tres partes. A central com a sede, negociou com o sargento-mor José Vieira Afonso, que por sua vez vendera a fazenda do Córrego Sêco a D. Pedro I. A banda leste de sua metade, ele negociou com Antonio Luis dos Santos Werneck, assim como, a banda oposta, ele vendeu a Tomé Correia de Salles.
A metade leste da fazenda da Bemposta foi incorporada à fazenda Sant'Anna fundada em 1813 por Magdalena Maria Pereira, tambem herdeira do capitão Antonio Barroso Pereira.
O acesso as terras de "Entre Rios" tinha origem no "Caminho do Mar de Espanha" bem próximo a sede da "Fazenda da Bemposta", cuja denominação poderia ser atribuida a uma homenagem ao rei D.João VI, que faleceu no ano de 1826 no "Paço da Bemposta", nas cercanias de Lisboa.
Do vale pioneiro do rio Calçado, a cultura cafeeira atravessaria logo o rio Paraiba do Sul para no lado mineiro do "Caminho do Mar de Espanha", onde teria a participação pioneira dos irmãos Francisco Leite Ribeiro e Custódio Ferreira Leite (depois barão de Ayuruoca; nascido em 3.12.1782 em São João del Rey). Nas suas fazendas, dos Alpes e do Louriçal, surgiu a cultura cafeeira em terras de Minas Gerais. E tambem por isso, o antigo arraial do Cágado é ainda hoje lembrado como a porta de entrada na "Zona da Mata Mineira".
Do epicentro do vale do rio Calçado, a primeira onda da cultura cafeeira em larga escala de produção, atingiu Cantagalo, antes mesmo do seu adensamento em Vassouras, Valença e a Paraiba Nova (Resende), assim como, as demais areas do vale do Paraiba na direção de São Paulo.
domingo, 21 de novembro de 2010
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
O VALE DO CALÇADO
O Vale do rio Calçado, desconhecido dos grandes historiadores brasileiros, fica situado entre os municípios de Sapucaia, São José do Vale do Rio Prêto e Três Rios, no Estado do Rio de Janeiro. Sua importancia está relacionada ao crepúsculo e resplandecer de dois grandes ciclos econômicos da história do Brasil, o ocaso aurífero em Minas e o surgimento da cultura cafeeira no Rio de Janeiro.
Nem mesmo a maior obra escrita sobre o café no Brasil, faz menção a essa região. Seu autor, o grande historiador Afonso D'Escragnole Taunay, era descendente da familia Teixeira Leite, grandes cafeicultores de Vassouras e Mar de Espanha. Curiosamente, Nicolas Antoine Taunay, seu avô, um dos principais membros da denominada "Missão Francesa" de 1816, passou a residir ao lado da cascata da Tijuca, em um sítio próximo a seus pares de idioma, os primeiros produtores comerciais de café no varejo da praça do Rio de Janeiro.
Recentemente tive a oportunidade de me inteirar sobre o conteúdo de uma correspondência entre o eminente historiador, e o sul paraibano Pedro Gomes da Silva, mais conhecido regionalmente pela alcunha de "Pedro Cabrito". O ultimo indagava informações para o conteúdo de seu livro, que somente seria publicado após sua morte. O título do mesmo foi escolhido por seu grande amigo e colaborador Arnaud Pierre, que o organizou, enriqueceu e publicou. A obra denominada "Capítulos da História de Paraíba do Sul", se constitui em rara referência à história do atual municipio de mesmo nome. Na correspondencia mencionada, A.D.Taunay lamenta não conhecer absolutamente nada sobre a conquista da banda leste da Paraiba, e responde fidalgamente, solicitando possiveis informações ao Pedro Cabrito.
Conheci Arnaud Pierre no ano da comemoração dos 150 anos da fundação da estrada União e Indústria; desde então, apesar de seus mais de 80 anos, caminhamos e devassamos a geografia de várias áreas da antiga Paraíba do Sul e adjacencias. Mostrei-lhe todo o território que pertenceu ao capitão Antonio Barroso Pereira, assim como, as fazendas do Mato Grosso, Sant'Anna, Calçado e outras que ele ainda não conhecia.
O atual município de Paraíba do Sul, fundado em 1834, surgiu a partir da antiga fazenda da Paraíba, edificada por Garcia Rodrigues Paes, na margem do "Caminho Novo", que ele desbravou, ligando Minas ao Rio de Janeiro por volta de 1709. Esse caminho foi encurtado a partir de 1724, por obra do então capitão Bernardo Soares de Proença, que aceitara as codições do contrato com a metrópole. Conhecida como "Variante Proença", o novo trecho partia da Paraiba, passava pelo arraial de Sebolas e atingia o atual município de Petrópolis, para em seguida descer a serra da Estrêla e alcançar o pôrto de igual nome na baía de Guanabara.
A partir de 1750 a capitania de Minas não mais atingia a meta das 100 arrôbas anuais de ouro exigidas pela coroa de Portugal. Para compensar o deficit, a metrópole pressionava com aumento de impostos, as "Derramas", trazendo em contrapartida, descontentamento no extrato social pagador de tributos. Com a situação flagrante de estagnação econômica em Minas, por volta de 1770, algumas familias já haviam deixado aquela capitania em busca de cartas de sesmaria próximas da então vila da Paraíba, mais perto do Rio de Janeiro.
Em 1784, após pomposo casamento ocorrido na matriz de N.S. do Pilar de São João del Rey, o capitão Antonio Barroso Pereira, natural de N.S. do Salto, PT e a jovem Mariana Jacinta de Macedo - nascida na fazenda do Ribeirão dos Cavalos e N. S. da Piedade do Rio Grande em São João del Rey -, fizeram o mesmo. Conseguiram terras na margem da "variante Proença" para edificar a modesta sede da fazenda do Mato Grosso, nas cercanias da capela de N.S. de Sant'Anna de Sebolas, na antiga freguesia da Paraíba.
Pouco antes, no ano de 1781, o então capitão general ou governador de Minas, D. Rodrigo José de Menezes, encarregara o corregedor Luis Beltrão de Gouveia e Almeida, para lavrar alvarás de posse de terras na região leste da serra da Mantiqueira, a "Zona da Mata", ainda denominada desse modo atualmente. O governador percebeu a necessidade de regularizar a situação naquela região da capitania que se encontrava repleta de garimpos clandestinos. Tal território fazia parte dos denominados sertões proibidos pela coroa, ou seja, grandes vastidões de terras ainda não cartografadas e de acesso vedado para evitar contrabando de ouro.
Nesse tempo, o alferes Joaquim José da Silva Xavier - Tiradentes - se encontrava em extensa rotina de trabalho, não somente como militar, chefiando o policiamento na região, mas também como mestre da obra de um posto de guarda, que seria mais tarde transformado no "Registro do Paraibuna". Ele viera do batalhão de Vila Rica como chefe da escolta de D. Rodrigo Menezes, que apreciando sua capacidade, o incumbiu dentre outras, as citadas missões.
Entre sua rotina de trabalho e o descanso, Tiradentes tinha gosto preferencial pelo arraial de N.S. de Sant'Anna de Sebolas, onde se encontravam vários antigos vizinhos e amigos do tempo de sua juventude, das cercanias da vila de São José, que atualmente é o município mineiro de Tiradentes em sua homenagem.
Após seu enforcamento no ano de 1792, houve o episódio macabro do uso de partes de seu corpo esquartejado. Devido a suas amizades no arraial de Sebolas, Tiradentes teve ali exposto o quarto esquerdo superior de seu corpo, o do coração. Tal episódio fez com que o lugar ficasse conhecido como Sant'Anna de Tiradentes, fato que compreendi mais recentemente, quando tive acesso a outra correspondencia entre Pedro Cabrito e Damaso José de Miranda Carvalho. O ultimo era descendente da irmã caçula de Tiradentes, e bisneto de Magdalena Maria e Damaso José de Carvalho. Curiosamente, Damaso José Miranda Carvalho, era sobrinho de Antonio José de Miranda Carvalho que foi proprietário da fazenda do "Governo", uma das mais antigas que subsistem na margem da variante Proença.
Antonio José Miranda Carvalho era filho de Damaso José Barroso de Carvalho, irmão caçula de José Antonio Baroso de carvalho - visconde do Rio Novo - e de Mariano José e Antonio José Barroso de Carvalho, assim como, de Carolina Carvalho Pinto. O corregedor Luis Beltrão de Gouveia e Almeida, viria a ser fiscal na gestão do 8º Intendente nos "Negócios de Diamantes" da coroa no Tejuco em Minas, ambos eram amigos contemporaneos egressos da Universidade de Coimbra.
Tal gestão no "Distrito Diamantino" teve início no ano de 1785 por portaria da rainha D. Maria I. O 8º Intendente era sobrinho, afilhado e homônimo do capitão Antonio Barroso Pereira. No mesmo ano, Luis Beltrão tornou-se padrinho do 1º filho do amigo Antonio, o Intendente. A cerimônia ocorreu na capela de Santo Antonio do Tijuco; o menino recebeu seu nome; ficaria conhecido mais tarde como o notavel oficial da "Armada Imperial", Luis Barroso Pereira, que se notabilizaria a partir da batalha de "Santarém" PT, contra as tropas de Napoleão Bonaparte no ano de 1811.
É importante ressaltar, que o capitão, o intendente, e o filho do capitão, respondiam pelo mesmo nome de Antonio Barroso Pereira. Portanto o 8º Intendente era primo irmão do futuro barão de Entre Rios, assim como, da irmã deste, Magdalena Maria, os únicos filhos do capitão Antonio.
O capitão, era irmão de João Barroso Pereira, desembargador da "Relação" da cidade do Pôrto, e que por sua vez, era o pai do 8º Intendente.
Antes de substituir o 7º Intendente, o terrivel D. Antonio de Meireles, "O cabeça de Ferro", Antonio Barroso Pereira era fiscal em Vila do Príncipe em 1784, por portaria assinada pela rainha Maria I. Ele aqui chegou, recem casado com Inácia da Costa Sampaio a tempo de assistir o casamento do tio e padrinho homônimo.
No Tijuco - Diamantina -, nasceram Luis, Bento e Joaquim, os tres primeiros filhos brasileiros de Antonio (8º Intendente) e Inácia, que foram importantes na consolidação da Independência do Brasil.
É perfeitamente plausivel, que na ocasião que requereu concessão de alvarás de posse de terras na área leste da Paraíba, o capitão Antonio Barroso Pereira tenha sido avaliado candidato preferencial. Não se pode ignorar, que a presença de Beltrão de Gouveia no alto escalão da malha burocrática nessa ocasião, possa ter influído a seu favor, e o ter privilegiado com mais de uma carta de Sesmaria. Por outro lado, é de se considerar, que a coroa distinguia quem tinha reais condições financeiras para laborar a terra. Além disso o capitão era oriundo de uma das mais antigas e importantes familias de Portugal. Barrosos e Pereiras tem parentesco e raizes em Salto, por vários séculos; dali era oriunda Leonor Alvim Barroso, que foi desposada pelo primo Nuno Alvares Pereira, o 2º Condestavel do reino de Portugal. O casal teve a filha Beatriz, que se tornou esposa do 1º duque de Bragança, desse modo, matriarca de toda descendencia, inclusive, o principe regente D. João.
Primariamente, o julgamento do "Conselho Ultramarino" apreciava o perfil do candidato, fato que favorecia o capitão Antonio, que não era um aventureio, mas um funcionário graduado de carreira, de familia importante; que dera baixa da ativa em Vila Rica, no inicio da gestão Rodrigo Menezes.
Luis Beltrão de Gouveia e Almeida, membro ha tempos do "Tribunal da Relação" no Rio de Janeiro desde que deixara o cargo de 9º Intendente dos Diamantes no Tijuco, fora efetivado titular no cargo no ano de 1805. Chegava ele ao topo de uma brilhante carreira no Brasil, desde que deixara Salvaterra de Magos,PT, quando atuara como corregedor de concessão de alvarás de posse de terras na capitania de Minas.
Por designação do regente D. João, Luis Beltrão de Gouveia e Almeida, deixaria o Brasil para se tornar capitão general da Ilha da Madeira no ano de 1814. Ali como governador, despachando normalmente no seu gabinete de trabalho, faleceria ele (de síncope cardíaca), o eterno solteirão e uma das mais brilhantes inteligencias do reino.
Com o falecimento do capitão Antonio Barroso Pereira antes de 1805, a viuva Mariana Jacinta veio a contrair segundas nupcias com o capitão José Antonio Barbosa, da fazenda Sebolas, cuja sede ficava defronte a capela de Sant'Anna, onde fôra expôsto parte do despojo de Tiradentes em 1792.
Certamente, após a morte do capitão Antonio Barroso pereira, o segundo marido da então viuva Mariana Jacinta, viria a assinar os livros de concessão de Sesmarias na banda leste da Paraíba. O fato também explica, que após a morte do capitão Antonio, sua viúva Mariana Jacinta e os únicos filhos do casal, Magdalena Maria (nascida em 1879) e Antonio (nascido em 1792 e futuro 1º barão de Entre Rios), herdariam a maior parte do imenso território da banda leste da vila da Paraíba. Tais terras se localizavam desde a margem fluminense do rio Paraíba do Sul, abrangendo os atuais distritos de Anta e Aparecida, pertencentes ao atual município de Sapucaia, assim como, o distrito de Bemposta, pertencente atualmente a Três Rios.
Consequentemente as determinações do governador da capitania de Minas a partir de 1781, houve grande adensamento populacional na mencionada zona leste da Mantiqueira ou "Zona da Mata", em especial no arraial do Cágado, atual municipio de Mar de Espanha. Seus habitantes passaram a utilizar uma nova via, que ficaria conhecida como "Caminho do Mar de Espanha", desse modo, os viandantes que se dirigiam dessa região ao Rio de Janeiro, não mais tinham a necessidade de passar pela vila da Paraíba, pois tal caminho ligava diretamente à Sebolas.
Por volta de 1805, foi edificada a primeira grande sede de fazenda de criação e de lavouras, na margem dessa nova via, justamente para a ocupação e desenvolvimento daquele imenso território deixado pelo capitão Antonio Barroso Pereira, que falecera pouco antes. Tal empreendimento se localizava na margem do "Caminho do Mar de Espanha" em terras fluminenses, que correspondiam a zona leste da vila da Paraiba e próxima de Sebolas. Ali foi edificada uma grande sede pelo capitão José Antonio Barbosa, esposa e enteados. É possivel que o nome da propriedade tenha se perpetuado como fazenda da Bemposta, em homenagem a D. João VI, que faleceu no ano de 1826 no "Paço da Bemposta" nas cercanias de Lisboa.
O lugar era conhecido como "Portões" que atualmente, é nome de um bairro do município de Areal, que se emancipou recentemente de Três Rios.
No ano de 1813, distando mil metros a sudeste do antigo "Porto Velho", local de travessia entre Minas e Rio, no percurso do "Caminho do Mar de Espanha", a herdeira Magdalena Maria, então recem casada com Damaso José de Carvalho, ergueria a fazenda "Sant'Anna", uma homenagem dela a N. S. de Sant'Anna de Sebolas. A sede dessa fazenda foi edificada na margem de uma área lageada do rio, que por isso, se eternizou como Calçado. Magdalena Maria, ergueria posteriormente, a primeira capela do outrora arraial de Anta, também denominando-a Sant'Anna.
As fazendas Sant'Anna e Bemposta passariam a receber mudas de café "Arábica", bem antes da ocasião em que D. João VI deferiu requerimento de concessão das terras de Entre Rios, solicitadas por Antonio Barroso Pereira e sua irmã Magdalena Maria no ano de 1817.
Entusiasmado com a perspectiva econômica do café, tendo como referencia o sucesso dos franco caribenhos do alto da Tijuca, o príncipe regente determinou uma verdadeira política de estado. Havia a necessidade urgente de produzir divisas a um reino mergulhado em imensa crise economica. A melhor possibilidade após a abertura dos portos da colonia, era transforma-la em produtora de café em larga escala para exportação.
Inteirando-se dos requisitos para introduzir vastamente a cultura cafeeira, vislumbrou a coroa prioritariamente, as partes altas do "Caminho Nôvo" relativamente próximas ao porto do rio de Janeiro. Estudadas as possibilidades geográficas e logísticas, a decisão do regente recaiu nos ombros do capitão José Antonio Barbosa e seu enteado Antonio Barroso Pereira, recem egresso do batalhão de Vila Rica. Pelo entusiasmo, empenho e lealdade, logo o 2º marido de Mariana Jacinta, seria tratado pelo regente pela alcunha de capitão "Tira Morros". A razão óbvia do apelido, já denota o estado de espírito daquele que se tornaria rei do Brasil, Portugal e Algarves no ano de 1816.
A política de implantação e desenvolvimento econômico da cultura cafeeira no vale do Paraíba, foi determinada pela ação enérgica e obstinada de D. João VI. Desse modo, o epicentro da primeira onda do café ocorreu no vale do rio Calçado, na margem do caminho do Mar de Espanha Fluminense, dirigindo-se em seguida, para a banda mineira desse mesmo caminho, mais precisamente nas cercanias do antigo "Arraial do Cágado". Após o sucesso pioneiro de Bemposta, a cafeicultura logo surgiu na região de Cantagalo em terras fluminenses.
Em sentido contrário às águas do Paraíba, a implantação extraordinaria da cultura cafeeira daria fama a Vassouras no início de 1830, quando o café se tornaria o primeiro produto da pauta das exportações brasileiras.
Além do pioneirismo do capitão "Tira Morros", projetos de novas vias foram surgindo para o escoamento da cultura do café, mesmo depois da partida de D. João VI. Após árdua e longa obra serra acima, baseada nos mapas do capitão Inácio de Sousa Werneck, ocorreu a abertura da estrada do Comércio, iniciada antes de 1824. A grande empreitada ocasionaria a incorporação de outras áreas, como Rio das Flores, Valença e Rio Preto em Minas Gerais. Neste mesmo ano, haviam chegado tardiamente, os desafortunados colonos Suiços para a ocupação dos antigos sertões do Macacú.
O "Vale do Calçado", título dessa crônica e Blog, tem aqui registrada sua relevancia histórica como protagonista da primeira onda do café no vale do Paraíba, tendo sido a fazenda do Calçado, verdadeiro marco histórico, pois que, foi a primeira fazenda genuinamente projetada para a cultura cafeeira no ano de 1820. Seu famoso quadrilátero de senzalas cercavam e protegiam o terreiro de secagem do café, com o objetivo também de defender o local, contra ataques dos indios Purys que habitavam a região.
A histórica fazenda que recebeu o nome do rio, ilustra esta página. A fotografia acima foi obtida da magnífica obra de Johann Georg Grimm, que a retratou em quadro a óleo sôbre tela, então encomendado por seu proprietário, o fazendeiro Inácio Barbosa dos Santos Werneck, o barão da Bemposta. Inácio adquirira a fazenda do Calçado de Carolina Carvalho Pinto, cunhada de sua irmã Isabel Leopoldina Werneck de Carvalho, que foi casada com outros dois irmãos de Carolina. Das fazendas aqui citadas e edificadas por seus pioneiros, derivaram todas as demais da bacia do rio Calçado, estas, edificadas paulatinamente através de desmembramento de terras das originais Bemposta e Sant'Anna.
Nem mesmo a maior obra escrita sobre o café no Brasil, faz menção a essa região. Seu autor, o grande historiador Afonso D'Escragnole Taunay, era descendente da familia Teixeira Leite, grandes cafeicultores de Vassouras e Mar de Espanha. Curiosamente, Nicolas Antoine Taunay, seu avô, um dos principais membros da denominada "Missão Francesa" de 1816, passou a residir ao lado da cascata da Tijuca, em um sítio próximo a seus pares de idioma, os primeiros produtores comerciais de café no varejo da praça do Rio de Janeiro.
Recentemente tive a oportunidade de me inteirar sobre o conteúdo de uma correspondência entre o eminente historiador, e o sul paraibano Pedro Gomes da Silva, mais conhecido regionalmente pela alcunha de "Pedro Cabrito". O ultimo indagava informações para o conteúdo de seu livro, que somente seria publicado após sua morte. O título do mesmo foi escolhido por seu grande amigo e colaborador Arnaud Pierre, que o organizou, enriqueceu e publicou. A obra denominada "Capítulos da História de Paraíba do Sul", se constitui em rara referência à história do atual municipio de mesmo nome. Na correspondencia mencionada, A.D.Taunay lamenta não conhecer absolutamente nada sobre a conquista da banda leste da Paraiba, e responde fidalgamente, solicitando possiveis informações ao Pedro Cabrito.
Conheci Arnaud Pierre no ano da comemoração dos 150 anos da fundação da estrada União e Indústria; desde então, apesar de seus mais de 80 anos, caminhamos e devassamos a geografia de várias áreas da antiga Paraíba do Sul e adjacencias. Mostrei-lhe todo o território que pertenceu ao capitão Antonio Barroso Pereira, assim como, as fazendas do Mato Grosso, Sant'Anna, Calçado e outras que ele ainda não conhecia.
O atual município de Paraíba do Sul, fundado em 1834, surgiu a partir da antiga fazenda da Paraíba, edificada por Garcia Rodrigues Paes, na margem do "Caminho Novo", que ele desbravou, ligando Minas ao Rio de Janeiro por volta de 1709. Esse caminho foi encurtado a partir de 1724, por obra do então capitão Bernardo Soares de Proença, que aceitara as codições do contrato com a metrópole. Conhecida como "Variante Proença", o novo trecho partia da Paraiba, passava pelo arraial de Sebolas e atingia o atual município de Petrópolis, para em seguida descer a serra da Estrêla e alcançar o pôrto de igual nome na baía de Guanabara.
A partir de 1750 a capitania de Minas não mais atingia a meta das 100 arrôbas anuais de ouro exigidas pela coroa de Portugal. Para compensar o deficit, a metrópole pressionava com aumento de impostos, as "Derramas", trazendo em contrapartida, descontentamento no extrato social pagador de tributos. Com a situação flagrante de estagnação econômica em Minas, por volta de 1770, algumas familias já haviam deixado aquela capitania em busca de cartas de sesmaria próximas da então vila da Paraíba, mais perto do Rio de Janeiro.
Em 1784, após pomposo casamento ocorrido na matriz de N.S. do Pilar de São João del Rey, o capitão Antonio Barroso Pereira, natural de N.S. do Salto, PT e a jovem Mariana Jacinta de Macedo - nascida na fazenda do Ribeirão dos Cavalos e N. S. da Piedade do Rio Grande em São João del Rey -, fizeram o mesmo. Conseguiram terras na margem da "variante Proença" para edificar a modesta sede da fazenda do Mato Grosso, nas cercanias da capela de N.S. de Sant'Anna de Sebolas, na antiga freguesia da Paraíba.
Pouco antes, no ano de 1781, o então capitão general ou governador de Minas, D. Rodrigo José de Menezes, encarregara o corregedor Luis Beltrão de Gouveia e Almeida, para lavrar alvarás de posse de terras na região leste da serra da Mantiqueira, a "Zona da Mata", ainda denominada desse modo atualmente. O governador percebeu a necessidade de regularizar a situação naquela região da capitania que se encontrava repleta de garimpos clandestinos. Tal território fazia parte dos denominados sertões proibidos pela coroa, ou seja, grandes vastidões de terras ainda não cartografadas e de acesso vedado para evitar contrabando de ouro.
Nesse tempo, o alferes Joaquim José da Silva Xavier - Tiradentes - se encontrava em extensa rotina de trabalho, não somente como militar, chefiando o policiamento na região, mas também como mestre da obra de um posto de guarda, que seria mais tarde transformado no "Registro do Paraibuna". Ele viera do batalhão de Vila Rica como chefe da escolta de D. Rodrigo Menezes, que apreciando sua capacidade, o incumbiu dentre outras, as citadas missões.
Entre sua rotina de trabalho e o descanso, Tiradentes tinha gosto preferencial pelo arraial de N.S. de Sant'Anna de Sebolas, onde se encontravam vários antigos vizinhos e amigos do tempo de sua juventude, das cercanias da vila de São José, que atualmente é o município mineiro de Tiradentes em sua homenagem.
Após seu enforcamento no ano de 1792, houve o episódio macabro do uso de partes de seu corpo esquartejado. Devido a suas amizades no arraial de Sebolas, Tiradentes teve ali exposto o quarto esquerdo superior de seu corpo, o do coração. Tal episódio fez com que o lugar ficasse conhecido como Sant'Anna de Tiradentes, fato que compreendi mais recentemente, quando tive acesso a outra correspondencia entre Pedro Cabrito e Damaso José de Miranda Carvalho. O ultimo era descendente da irmã caçula de Tiradentes, e bisneto de Magdalena Maria e Damaso José de Carvalho. Curiosamente, Damaso José Miranda Carvalho, era sobrinho de Antonio José de Miranda Carvalho que foi proprietário da fazenda do "Governo", uma das mais antigas que subsistem na margem da variante Proença.
Antonio José Miranda Carvalho era filho de Damaso José Barroso de Carvalho, irmão caçula de José Antonio Baroso de carvalho - visconde do Rio Novo - e de Mariano José e Antonio José Barroso de Carvalho, assim como, de Carolina Carvalho Pinto. O corregedor Luis Beltrão de Gouveia e Almeida, viria a ser fiscal na gestão do 8º Intendente nos "Negócios de Diamantes" da coroa no Tejuco em Minas, ambos eram amigos contemporaneos egressos da Universidade de Coimbra.
Tal gestão no "Distrito Diamantino" teve início no ano de 1785 por portaria da rainha D. Maria I. O 8º Intendente era sobrinho, afilhado e homônimo do capitão Antonio Barroso Pereira. No mesmo ano, Luis Beltrão tornou-se padrinho do 1º filho do amigo Antonio, o Intendente. A cerimônia ocorreu na capela de Santo Antonio do Tijuco; o menino recebeu seu nome; ficaria conhecido mais tarde como o notavel oficial da "Armada Imperial", Luis Barroso Pereira, que se notabilizaria a partir da batalha de "Santarém" PT, contra as tropas de Napoleão Bonaparte no ano de 1811.
É importante ressaltar, que o capitão, o intendente, e o filho do capitão, respondiam pelo mesmo nome de Antonio Barroso Pereira. Portanto o 8º Intendente era primo irmão do futuro barão de Entre Rios, assim como, da irmã deste, Magdalena Maria, os únicos filhos do capitão Antonio.
O capitão, era irmão de João Barroso Pereira, desembargador da "Relação" da cidade do Pôrto, e que por sua vez, era o pai do 8º Intendente.
Antes de substituir o 7º Intendente, o terrivel D. Antonio de Meireles, "O cabeça de Ferro", Antonio Barroso Pereira era fiscal em Vila do Príncipe em 1784, por portaria assinada pela rainha Maria I. Ele aqui chegou, recem casado com Inácia da Costa Sampaio a tempo de assistir o casamento do tio e padrinho homônimo.
No Tijuco - Diamantina -, nasceram Luis, Bento e Joaquim, os tres primeiros filhos brasileiros de Antonio (8º Intendente) e Inácia, que foram importantes na consolidação da Independência do Brasil.
É perfeitamente plausivel, que na ocasião que requereu concessão de alvarás de posse de terras na área leste da Paraíba, o capitão Antonio Barroso Pereira tenha sido avaliado candidato preferencial. Não se pode ignorar, que a presença de Beltrão de Gouveia no alto escalão da malha burocrática nessa ocasião, possa ter influído a seu favor, e o ter privilegiado com mais de uma carta de Sesmaria. Por outro lado, é de se considerar, que a coroa distinguia quem tinha reais condições financeiras para laborar a terra. Além disso o capitão era oriundo de uma das mais antigas e importantes familias de Portugal. Barrosos e Pereiras tem parentesco e raizes em Salto, por vários séculos; dali era oriunda Leonor Alvim Barroso, que foi desposada pelo primo Nuno Alvares Pereira, o 2º Condestavel do reino de Portugal. O casal teve a filha Beatriz, que se tornou esposa do 1º duque de Bragança, desse modo, matriarca de toda descendencia, inclusive, o principe regente D. João.
Primariamente, o julgamento do "Conselho Ultramarino" apreciava o perfil do candidato, fato que favorecia o capitão Antonio, que não era um aventureio, mas um funcionário graduado de carreira, de familia importante; que dera baixa da ativa em Vila Rica, no inicio da gestão Rodrigo Menezes.
Luis Beltrão de Gouveia e Almeida, membro ha tempos do "Tribunal da Relação" no Rio de Janeiro desde que deixara o cargo de 9º Intendente dos Diamantes no Tijuco, fora efetivado titular no cargo no ano de 1805. Chegava ele ao topo de uma brilhante carreira no Brasil, desde que deixara Salvaterra de Magos,PT, quando atuara como corregedor de concessão de alvarás de posse de terras na capitania de Minas.
Por designação do regente D. João, Luis Beltrão de Gouveia e Almeida, deixaria o Brasil para se tornar capitão general da Ilha da Madeira no ano de 1814. Ali como governador, despachando normalmente no seu gabinete de trabalho, faleceria ele (de síncope cardíaca), o eterno solteirão e uma das mais brilhantes inteligencias do reino.
Com o falecimento do capitão Antonio Barroso Pereira antes de 1805, a viuva Mariana Jacinta veio a contrair segundas nupcias com o capitão José Antonio Barbosa, da fazenda Sebolas, cuja sede ficava defronte a capela de Sant'Anna, onde fôra expôsto parte do despojo de Tiradentes em 1792.
Certamente, após a morte do capitão Antonio Barroso pereira, o segundo marido da então viuva Mariana Jacinta, viria a assinar os livros de concessão de Sesmarias na banda leste da Paraíba. O fato também explica, que após a morte do capitão Antonio, sua viúva Mariana Jacinta e os únicos filhos do casal, Magdalena Maria (nascida em 1879) e Antonio (nascido em 1792 e futuro 1º barão de Entre Rios), herdariam a maior parte do imenso território da banda leste da vila da Paraíba. Tais terras se localizavam desde a margem fluminense do rio Paraíba do Sul, abrangendo os atuais distritos de Anta e Aparecida, pertencentes ao atual município de Sapucaia, assim como, o distrito de Bemposta, pertencente atualmente a Três Rios.
Consequentemente as determinações do governador da capitania de Minas a partir de 1781, houve grande adensamento populacional na mencionada zona leste da Mantiqueira ou "Zona da Mata", em especial no arraial do Cágado, atual municipio de Mar de Espanha. Seus habitantes passaram a utilizar uma nova via, que ficaria conhecida como "Caminho do Mar de Espanha", desse modo, os viandantes que se dirigiam dessa região ao Rio de Janeiro, não mais tinham a necessidade de passar pela vila da Paraíba, pois tal caminho ligava diretamente à Sebolas.
Por volta de 1805, foi edificada a primeira grande sede de fazenda de criação e de lavouras, na margem dessa nova via, justamente para a ocupação e desenvolvimento daquele imenso território deixado pelo capitão Antonio Barroso Pereira, que falecera pouco antes. Tal empreendimento se localizava na margem do "Caminho do Mar de Espanha" em terras fluminenses, que correspondiam a zona leste da vila da Paraiba e próxima de Sebolas. Ali foi edificada uma grande sede pelo capitão José Antonio Barbosa, esposa e enteados. É possivel que o nome da propriedade tenha se perpetuado como fazenda da Bemposta, em homenagem a D. João VI, que faleceu no ano de 1826 no "Paço da Bemposta" nas cercanias de Lisboa.
O lugar era conhecido como "Portões" que atualmente, é nome de um bairro do município de Areal, que se emancipou recentemente de Três Rios.
No ano de 1813, distando mil metros a sudeste do antigo "Porto Velho", local de travessia entre Minas e Rio, no percurso do "Caminho do Mar de Espanha", a herdeira Magdalena Maria, então recem casada com Damaso José de Carvalho, ergueria a fazenda "Sant'Anna", uma homenagem dela a N. S. de Sant'Anna de Sebolas. A sede dessa fazenda foi edificada na margem de uma área lageada do rio, que por isso, se eternizou como Calçado. Magdalena Maria, ergueria posteriormente, a primeira capela do outrora arraial de Anta, também denominando-a Sant'Anna.
As fazendas Sant'Anna e Bemposta passariam a receber mudas de café "Arábica", bem antes da ocasião em que D. João VI deferiu requerimento de concessão das terras de Entre Rios, solicitadas por Antonio Barroso Pereira e sua irmã Magdalena Maria no ano de 1817.
Entusiasmado com a perspectiva econômica do café, tendo como referencia o sucesso dos franco caribenhos do alto da Tijuca, o príncipe regente determinou uma verdadeira política de estado. Havia a necessidade urgente de produzir divisas a um reino mergulhado em imensa crise economica. A melhor possibilidade após a abertura dos portos da colonia, era transforma-la em produtora de café em larga escala para exportação.
Inteirando-se dos requisitos para introduzir vastamente a cultura cafeeira, vislumbrou a coroa prioritariamente, as partes altas do "Caminho Nôvo" relativamente próximas ao porto do rio de Janeiro. Estudadas as possibilidades geográficas e logísticas, a decisão do regente recaiu nos ombros do capitão José Antonio Barbosa e seu enteado Antonio Barroso Pereira, recem egresso do batalhão de Vila Rica. Pelo entusiasmo, empenho e lealdade, logo o 2º marido de Mariana Jacinta, seria tratado pelo regente pela alcunha de capitão "Tira Morros". A razão óbvia do apelido, já denota o estado de espírito daquele que se tornaria rei do Brasil, Portugal e Algarves no ano de 1816.
A política de implantação e desenvolvimento econômico da cultura cafeeira no vale do Paraíba, foi determinada pela ação enérgica e obstinada de D. João VI. Desse modo, o epicentro da primeira onda do café ocorreu no vale do rio Calçado, na margem do caminho do Mar de Espanha Fluminense, dirigindo-se em seguida, para a banda mineira desse mesmo caminho, mais precisamente nas cercanias do antigo "Arraial do Cágado". Após o sucesso pioneiro de Bemposta, a cafeicultura logo surgiu na região de Cantagalo em terras fluminenses.
Em sentido contrário às águas do Paraíba, a implantação extraordinaria da cultura cafeeira daria fama a Vassouras no início de 1830, quando o café se tornaria o primeiro produto da pauta das exportações brasileiras.
Além do pioneirismo do capitão "Tira Morros", projetos de novas vias foram surgindo para o escoamento da cultura do café, mesmo depois da partida de D. João VI. Após árdua e longa obra serra acima, baseada nos mapas do capitão Inácio de Sousa Werneck, ocorreu a abertura da estrada do Comércio, iniciada antes de 1824. A grande empreitada ocasionaria a incorporação de outras áreas, como Rio das Flores, Valença e Rio Preto em Minas Gerais. Neste mesmo ano, haviam chegado tardiamente, os desafortunados colonos Suiços para a ocupação dos antigos sertões do Macacú.
O "Vale do Calçado", título dessa crônica e Blog, tem aqui registrada sua relevancia histórica como protagonista da primeira onda do café no vale do Paraíba, tendo sido a fazenda do Calçado, verdadeiro marco histórico, pois que, foi a primeira fazenda genuinamente projetada para a cultura cafeeira no ano de 1820. Seu famoso quadrilátero de senzalas cercavam e protegiam o terreiro de secagem do café, com o objetivo também de defender o local, contra ataques dos indios Purys que habitavam a região.
A histórica fazenda que recebeu o nome do rio, ilustra esta página. A fotografia acima foi obtida da magnífica obra de Johann Georg Grimm, que a retratou em quadro a óleo sôbre tela, então encomendado por seu proprietário, o fazendeiro Inácio Barbosa dos Santos Werneck, o barão da Bemposta. Inácio adquirira a fazenda do Calçado de Carolina Carvalho Pinto, cunhada de sua irmã Isabel Leopoldina Werneck de Carvalho, que foi casada com outros dois irmãos de Carolina. Das fazendas aqui citadas e edificadas por seus pioneiros, derivaram todas as demais da bacia do rio Calçado, estas, edificadas paulatinamente através de desmembramento de terras das originais Bemposta e Sant'Anna.
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