sábado, 25 de fevereiro de 2012

HISTORICO DA FAZENDA DA BEMPOSTA

Todas as fazendas da bacia do rio Calçado surgiram atraves do desmembramento da fazenda da Bemposta, cuja sede foi edificada após o ano de 1805 na margem do "Caminho do Mar de Espanha".
O autor Pedro Gomes da Silva em sua obra "Capitulos da Historia de Paraiba do Sul" apresenta sua versão à denominação da fazenda, sujerindo que Bemposta foi uma forma de José Antonio Barbosa - o "Capitão Tira Morros" - homenagear a terra paterna. Tal suposição de Pedro Gomes da Silva, segundo me confidenciou Arnaud Pierre, que publicou a obra após a morte do autor e amigo, teve base apenas no fato de o pai do capitão ter nascido no lugar denominado "Campos da Bemposta" em Portugal.
Com o passar do tempo fui demonstrando a Arnaud Pierre - falecido em fins de 2011 - que historicamente, a banda leste da antiga vila da Paraiba teve sua ocupação iniciada no local conhecido como "Portões". Tal denominação surgiu com a cobrança de pedagio nesse exato ponto do "Caminho do Mar de Espanha". Portões atualmente é nome de bairro do municipio de Areal no estado do Rio de Janeiro, que fica situado entre Petropolis e Tres Rios. O local dos antigos "Portões" certamente ficava situado no inicio da estrada que liga o atual bairro de mesmo nome ao atual distrito de Alberto Torres pertencente a Tres Rios. Do local exato da antiga cobrança do pedagio, o caminho se dirige ao alto da serra do "Mundo Novo", que era a parte alta da verdadeira e antiga via do "Caminho do Mar de Espanha". A via ligava o antigo arraial do Cágado em Minas Gerais, ao arraial de Sebolas no Rio de Janeiro.
A ligação entre o centro atual do municipio de Areal e os "Portões", surgiu na ocasião da construção da antiga estrada Rio - Bahia, na era Vargas. Desse modo, o centro de Areal, na margem da rodovia "União e Industria" (Petropolis-Juiz de Fora), ficou ligado aos "Portões". A partir dessa ocasião a rodovia Rio-Bahia partiria dos "Portões", utilizando toda a parte baixa fluminense do "Caminho do Mar de Espanha", fazendo a ligação entre o distrito de Bemposta ao distrito de Anta por rodovia de terra, atingindo depois os municípios de Sapucaia (RJ)e Alem Paraiba (MG).
Nos antigos "Portões" era cobrado o pedagio dos viandantes que transitavam entre o antigo arraial do Cágado, atual municipio de Mar de Espanha na zona leste da serra da Mantiqueira ou zona da mata mineira e Sebolas no Rio de Janeiro.
O pedagio era cobrado pelos proprietarios das terras, que abrangiam desde à margem direita do rio Piabanha em Albetro Torres, até a travessia do rio Paraiba do Sul, onde o "Caminho do Mar de Espanha" alcançava por canoa, o arrail de Chiador, na margem mineira oposta. Ainda na margem direita, as terras da familia Barroso Pereira se extendiam até o marco da futura vila de Anta, o pico do morro de São João, na divisa com Sapucaia, atual municipio.
No alto da serra do Mundo Novo ainda se encontra a magnifica sede da fazenda São João do Penedo que é da mesma época da fazenda Santarem. A portentosa sede foi edificada por Antonio de Castilho, genro de Leandro Barbosa, que era irmão do capitão "Tira Morros" e genro de Francisco Fagundes do Amaral, primeiro sesmeiro da região de Sebolas.Importante lembrar ainda, que Fagundes foi pioneiro na região, levado por Bernardo Soares de Proença, seu cunhado. O capitão Proença foi quem abriu a Variante entre Paraiba do Sul e o Pôrto de Estrela, passando pelo atual município de Petrópolis, no ano de 1724. Desde essa ocasião, o "Caminho Novo" de Minas, não mais desceria a serra por Paty do Alferes e o reconcavo da Bahia de Guanabara. A fazenda São João do Penedo fica situada exatamente entre os antigos "Portões" e a margem direita da atual BR 040, antes da travessia do rio Piabanha na direção de Sebolas. O antigo arraial de Sebolas atualmente é conhecido como distrito de Inconfidencia pertencente ao municipio de Paraiba do Sul.
De Sebolas partiu a ocupação da banda leste da antiga vila da Paraiba, a partir da edificação dos "Portões", não se sabendo ao certo, se os mesmos foram edificados pelo capitão Antonio Barroso Pereira ou pelo segundo marido de sua viuva, o capitão José Antonio Barbosa. O capitão Antonio Barroso Pereira viera de Minas com a mulher e o casal de filhos para edificar a Fazenda do Mato Grosso -próxima ao arraial de sebolas - inicialmente. Sabe-se que a edificação da sede da fazenda da Bemposta ocorreu depois da morte do capitão Antonio Barroso Pereira, que houvera reinvindicado aquelas sesmarias de forma individual, ou seja, terras em seu nome e outras tantas em nome de sua mulher Mariana Jacinta de Macedo. A localização da sede fazenda da Bemposta certamente foi escolhida por tratar-se de área rica em água, alem de estar situada mais centralmente no percurso de "Caminho do Mar de Espanha" fluminense, distando menos de 4 kms do local exato dos antigos "Portões". Essa situação geográfica reforça a tese da logística ideal para a ocupação dos sertões do territorio leste a ser desbravado. Isso de fato ocorreu com a edificação da Fazenda Sant'Anna no ano de 1813 pelo casal Magdalena Maria e Damaso José de Carvalho. Alem disso, no ano de 1817, tanto Magadalena Maria, como seu irmão Antonio Barroso Pereira (homonimo do pai e futuro barão de Entre Rios), receberam de D. João VI, as sesmarias de Entre Rios, onde ambos fundariam várias fazendas. Antonio edificaria as fazendas Cantagalo, Cachoeira e Rua Direita; sua irmã edificaria as fazendas Boa União e Piracema. Essa concessão de novas terras ofertadas por D. João VI a mesma familia reforça a preferencia do monarca pela familia Barroso Pereira, sua velha conhecida.
Como resultado dessa estrategia a coroa e os beneficiários atingiriam o objetivo crucial da implantação da cultura cafeeira no vale pioneiro do rio Calçado, seguido das terras de Entre Rios. Isso ocorreu efetivamente havendo quase instantaneamete a colonização do amplo território com o surgimento de inumeras fazendas de café.
Dessa região extrategica para a coroa a cultura cafeeira se desenvolveria de forma extraordinaria, ocorrendo a incorporação de outras áreas de cultivo atraves de novas vias de comunicação que logo alcançaram Cantagalo, que se ligou a Mar de Espanha por travessia do rio Paraiba na altura de Sapucaia, surgindo desse modo, as fazendas do Louriçal e Alpes, as pioneiras de café na provincia de Minas Gerais. Ao alcançar Vassouras a estrada do Comercio transformaria o café na principal fonte de exportação do Brasil em 1830.
D. João VI, que foi coroado rei no Brasil, nutria tanta admiração pelo capitão José Antonio Barbosa, que passou a trata-lo pela alcunha de "Capitão Tira Morros"! Desde o tempo inicial da regencia no Brasil, o monarca testemunhou inumeras obras realizadas pelo sudito modesto e agradecido, que mais tarde acrescentaria ao nome, o apelido real.
O capitão Tira Morros não teria a presença de D. João VI no palanque durante a inauguração da ponte de madeira e base de pedra - ligando Rio e Minas - sobre o rio Paraibuna no ano de 1824. Obra de grande porte para a época, a ponte ainda existente, liga Simão Pereira em Minas Gerais e Mont Serrat no Rio de Janeiro. A mesma foi inaugurada por D. Pedro I no mesmo dia em que Luis Barroso Pereira chegava ao Rio de Janeiro procedente do Recife para encontrar com imperador e tratar dos assuntos conflitantes da "Confederação do Equador".
Com a morte de D. João VI ocorrida em 1826 houve grande consternação do capitão "Tira Morros" e todo o clã Barroso Pereira e Carvalho. As noticias anteriores que chegavam de Lisboa já eram inquietantes e tristes, uma vez que, no Brasil era conhecida a perda de poder do grande estadista frente aos constitucionalistas no parlamento portugues.
A morte de D. João VI no "Paço da Bemposta" nas cercanias de Lisboa, muito provavelmente contribuiu, para que os agradecidos suditos perpetuassem o nome do palacio,local de sua morte, à fazenda pioneira do vale do rio Calçado na margem do "Caminho do Mar de Espanha". O palacio da Bemposta foi erguido por determinação de Catarina, rainha portuguesa da Inglaterra, que após viúva e sem filhos de Charles II, retornara à sua terra natal durante o reinado de seu irmão caçula D. Pedro II de Portugal.