sábado, 14 de janeiro de 2012

PAMPULHA

A denominação mais antiga de "Pampulha" é encontrada no texto da obra "Auto da Barca do Inferno" de Gil Vicente, poeta e dramaturgo portugues (1465/1536) que transgrediu costumes medievais, tornando-se ícone do teatro portugues renascentista. Sua obra foi pautada pela crítica social retratando costumes, dramas e vicios de seu tempo.
A denominação surge no dialogo entre o "Parvo e o Diabo", quando o penultimo responde ao convite ao inferno, citando "Pelourinho da Pampulha" em meio a citações escatologicas para designar o mesmo... Pode-se concluir que um local de pelourinho, por si, já apresenta a conotação de sofrimento. Alem desse aspecto o local do Pelourinho da Pampulha na Lisboa daquela época ficava em uma antiga zona portuaria, atualmente mais afastada do atual porto de Lisboa devido a sucessivos aterros. Na época dos grandes descobrimentos, certamente ali no "Pelourinho da Pampulha" ocorriam os castigos, especialmente após o desembarque das longas empresas das rotas da África, Ásia e do Brasil.
O termo Pampulha aparece pela primeira vez no Brasil como denominação de um "posto de guarda e registro" da corôa portuguesa situado na margem do "Caminho Novo", próximo ao antigo arraial de Sebolas. Por força da própria historia, tal lugar ainda é vastamente citado utilizando-se a denominação antiga, desprezando-se desse modo, a denominação "Inconfidencia" que faz referencia ao atual 2º distrito do município de Paraiba do Sul. A ultima denominação é pertinente aos fatos históricos que envolveram a figura de "Tiradentes", uma vez que, depois de sua morte no ano de 1792, o martir teve uma unica parte de seu corpo depositada em urna debaixo do altar da capela de Sant'Anna de Sebolas, que já não existe. Posteriormente a esse fato, o lugar ficou conhecido por muito tempo como "Sant'Anna de Tiradentes".
O posto de guarda da Pampulha foi presumivelmente erguido na gestão Gomes Freire de Andrade, o visconde de Bobadela, então vice rei do Brasil em meados do séc. XVIII. Nessa época a colonia ainda remetia à metropole a cota de 100 arrobas anuais de ouro. No entanto, o contrabando era intenso, fato esse que obrigou a metropole tentar refrear o desvio do precioso metal em local mais próximo ao Rio de janeiro. Até então o registro mais próximo para verificação de passaporte e inspeção entre o Rio de Janeiro e a capitania de Minas era o de Matias Barbosa. Posteriorment, este foi desativado, passando a funcionar no antigo posto de guarda do Paraibuna que fora edificado por Tiradentes no ano de 1783. O mesmo ainda se encontra presente no local, bem próximo a ponte construida pelo "Capitão Tira Morros" ligando o Rio de Janeiro e Minas Gerais; inaugurada por D. Pedro I no ano de 1824.
Como se sabe, a vila da Paraiba ficava situada a meio caminho da jornada entre o distrito aurífero e o porto do Rio de Janeiro, desse modo, o local escolhido próximo ao arraial de Sebolas era o mais correto sob o ponto de vista da logistica da longa viagem sobre mulas. Na parada da Pampulha, especialmente as autoridades de maior relevancia no governo da colonia faziam a sua rotina de descanço, assim como, a troca (muda) de animais para prosseguimento da viagem em ambos os sentidos. Praças e furrieis se ospedavam em edificações que não mais existem; que ficavam situadas entre o predio principal e a antiga cadeia, que persistiu ao tempo, por ser totalmente edificada em pedra. Do predio principal, somente existe a fachada em pedra, uma vez que, por volta de 1963, o mesmo que era de pau a pique, foi posto abaixo para venda de madeira e telhas.
A rota que ficou conhecida como "Caminho do Mar de Espanha", ligando o antigo arraial do Cágado - atualmente municipio de Mar de Espanha, MG - ao Rio de Janeiro, teve necessariamente que ser direcionada ao posto da Pampulha, seu destino final. O "Caminho do Mar de Espanha" foi a primeira rota auxiliar do "Caminho Novo" a ser oficializada ainda no século XVIII pela coroa portuguesa. Aredita-se que a via tenha surgido a partir de uma antiga trilha de contrabando de ouro, inicialmente partindo de Minas, e na altura da travessia do rio Paraiba do Sul, conduzia forasteiros atraves do "sertão desconhecido" da coroa, na direção de Inhomirim e Magé. Teria o "Capitão Tira Morros" então ligado essa via a Sebolas, desde a margem fluminense do dito caminho, entre Minas e Rio de Janeiro. Esse fato, se verdadeiro, explicaria, justamente nessa época, o inicio da exploração da banda leste da antiga vila da Paraiba, com a edificação dos "Portões", onde era cobrado o pedagio pela passagem em terras particulares. Surgiria posteriormente então na primeira década do séc. XIX, a fazenda que recebeu o nome de Bemposta, edificada por José Antonio Barbosa - capitão Tira Morros - e sua esposa Mariana Jacinta de Macedo, que enviuvara do capitão Antonio Barroso Pereira, o verdadeiro requerente daquelas sesmarias. Posteriormente, surgiria na margem da antiga trilha mencionada daquele sertão, após a travessia do Paraiba em direção sudeste, a fazenda Sant'Anna edificada em 1813 por Magadalena Maria Barroso Pereira e seu marido Damaso José de Carvalho.
Infelizmente desde o dia 25 de julho de 2008, após eu ter remetido correspondencia ao Ministerio da Cultura e Ministerio Publico Federal, no sentido de uma tomada de posição do governo federal relativamente ao tombamento daquele sitio historico único do "Caminho Novo" na "Variante Proença", nada foi feito até hoje. Após varios contatos com o IPHAN de Petrópolis, autarquia indicada pelo Ministerio da Cultura para que tal tarefa fosse levada a termo, tudo continua como estava. Recentemente aquele sitio arqueologico foi adquirido para ser transformado em um aras particular, sem que o IPHAN tenha tomado qualquer iniciativa, mesmo após eu ter escrito carta a sua diretora regional, srª Érika Pereira Machado, que nunca retornou dando a menor satisfação. Alem disso, a prefeitura de Paraiba do Sul, maior interessada na preservação de seu mais antigo patrimonio histórico existente, nunca deu a menor importancia à Pampulha e seu entorno.
De qualquer modo, a carta direcionada aos órgãos publicos federais citados com fotografia que realizei antes e depois dos estragos realizados pelo vendedor daquele sito historico, está registrada em cartório no minicípio de Petrópolis. Fica registrado aqui, que o IPHAN e a Prefeitura de Paraiba do Sul, são os orgãos responsaveis pela preservação daquele único e precioso sitio historico da Pampulha, uma vez que, houve delegação do Ministério Público Federal para que providencias fossem tomadas.