sexta-feira, 11 de maio de 2012

sábado, 25 de fevereiro de 2012

HISTORICO DA FAZENDA DA BEMPOSTA

Todas as fazendas da bacia do rio Calçado surgiram atraves do desmembramento da fazenda da Bemposta, cuja sede foi edificada após o ano de 1805 na margem do "Caminho do Mar de Espanha".
O autor Pedro Gomes da Silva em sua obra "Capitulos da Historia de Paraiba do Sul" apresenta sua versão à denominação da fazenda, sujerindo que Bemposta foi uma forma de José Antonio Barbosa - o "Capitão Tira Morros" - homenagear a terra paterna. Tal suposição de Pedro Gomes da Silva, segundo me confidenciou Arnaud Pierre, que publicou a obra após a morte do autor e amigo, teve base apenas no fato de o pai do capitão ter nascido no lugar denominado "Campos da Bemposta" em Portugal.
Com o passar do tempo fui demonstrando a Arnaud Pierre - falecido em fins de 2011 - que historicamente, a banda leste da antiga vila da Paraiba teve sua ocupação iniciada no local conhecido como "Portões". Tal denominação surgiu com a cobrança de pedagio nesse exato ponto do "Caminho do Mar de Espanha". Portões atualmente é nome de bairro do municipio de Areal no estado do Rio de Janeiro, que fica situado entre Petropolis e Tres Rios. O local dos antigos "Portões" certamente ficava situado no inicio da estrada que liga o atual bairro de mesmo nome ao atual distrito de Alberto Torres pertencente a Tres Rios. Do local exato da antiga cobrança do pedagio, o caminho se dirige ao alto da serra do "Mundo Novo", que era a parte alta da verdadeira e antiga via do "Caminho do Mar de Espanha". A via ligava o antigo arraial do Cágado em Minas Gerais, ao arraial de Sebolas no Rio de Janeiro.
A ligação entre o centro atual do municipio de Areal e os "Portões", surgiu na ocasião da construção da antiga estrada Rio - Bahia, na era Vargas. Desse modo, o centro de Areal, na margem da rodovia "União e Industria" (Petropolis-Juiz de Fora), ficou ligado aos "Portões". A partir dessa ocasião a rodovia Rio-Bahia partiria dos "Portões", utilizando toda a parte baixa fluminense do "Caminho do Mar de Espanha", fazendo a ligação entre o distrito de Bemposta ao distrito de Anta por rodovia de terra, atingindo depois os municípios de Sapucaia (RJ)e Alem Paraiba (MG).
Nos antigos "Portões" era cobrado o pedagio dos viandantes que transitavam entre o antigo arraial do Cágado, atual municipio de Mar de Espanha na zona leste da serra da Mantiqueira ou zona da mata mineira e Sebolas no Rio de Janeiro.
O pedagio era cobrado pelos proprietarios das terras, que abrangiam desde à margem direita do rio Piabanha em Albetro Torres, até a travessia do rio Paraiba do Sul, onde o "Caminho do Mar de Espanha" alcançava por canoa, o arrail de Chiador, na margem mineira oposta. Ainda na margem direita, as terras da familia Barroso Pereira se extendiam até o marco da futura vila de Anta, o pico do morro de São João, na divisa com Sapucaia, atual municipio.
No alto da serra do Mundo Novo ainda se encontra a magnifica sede da fazenda São João do Penedo que é da mesma época da fazenda Santarem. A portentosa sede foi edificada por Antonio de Castilho, genro de Leandro Barbosa, que era irmão do capitão "Tira Morros" e genro de Francisco Fagundes do Amaral, primeiro sesmeiro da região de Sebolas.Importante lembrar ainda, que Fagundes foi pioneiro na região, levado por Bernardo Soares de Proença, seu cunhado. O capitão Proença foi quem abriu a Variante entre Paraiba do Sul e o Pôrto de Estrela, passando pelo atual município de Petrópolis, no ano de 1724. Desde essa ocasião, o "Caminho Novo" de Minas, não mais desceria a serra por Paty do Alferes e o reconcavo da Bahia de Guanabara. A fazenda São João do Penedo fica situada exatamente entre os antigos "Portões" e a margem direita da atual BR 040, antes da travessia do rio Piabanha na direção de Sebolas. O antigo arraial de Sebolas atualmente é conhecido como distrito de Inconfidencia pertencente ao municipio de Paraiba do Sul.
De Sebolas partiu a ocupação da banda leste da antiga vila da Paraiba, a partir da edificação dos "Portões", não se sabendo ao certo, se os mesmos foram edificados pelo capitão Antonio Barroso Pereira ou pelo segundo marido de sua viuva, o capitão José Antonio Barbosa. O capitão Antonio Barroso Pereira viera de Minas com a mulher e o casal de filhos para edificar a Fazenda do Mato Grosso -próxima ao arraial de sebolas - inicialmente. Sabe-se que a edificação da sede da fazenda da Bemposta ocorreu depois da morte do capitão Antonio Barroso Pereira, que houvera reinvindicado aquelas sesmarias de forma individual, ou seja, terras em seu nome e outras tantas em nome de sua mulher Mariana Jacinta de Macedo. A localização da sede fazenda da Bemposta certamente foi escolhida por tratar-se de área rica em água, alem de estar situada mais centralmente no percurso de "Caminho do Mar de Espanha" fluminense, distando menos de 4 kms do local exato dos antigos "Portões". Essa situação geográfica reforça a tese da logística ideal para a ocupação dos sertões do territorio leste a ser desbravado. Isso de fato ocorreu com a edificação da Fazenda Sant'Anna no ano de 1813 pelo casal Magdalena Maria e Damaso José de Carvalho. Alem disso, no ano de 1817, tanto Magadalena Maria, como seu irmão Antonio Barroso Pereira (homonimo do pai e futuro barão de Entre Rios), receberam de D. João VI, as sesmarias de Entre Rios, onde ambos fundariam várias fazendas. Antonio edificaria as fazendas Cantagalo, Cachoeira e Rua Direita; sua irmã edificaria as fazendas Boa União e Piracema. Essa concessão de novas terras ofertadas por D. João VI a mesma familia reforça a preferencia do monarca pela familia Barroso Pereira, sua velha conhecida.
Como resultado dessa estrategia a coroa e os beneficiários atingiriam o objetivo crucial da implantação da cultura cafeeira no vale pioneiro do rio Calçado, seguido das terras de Entre Rios. Isso ocorreu efetivamente havendo quase instantaneamete a colonização do amplo território com o surgimento de inumeras fazendas de café.
Dessa região extrategica para a coroa a cultura cafeeira se desenvolveria de forma extraordinaria, ocorrendo a incorporação de outras áreas de cultivo atraves de novas vias de comunicação que logo alcançaram Cantagalo, que se ligou a Mar de Espanha por travessia do rio Paraiba na altura de Sapucaia, surgindo desse modo, as fazendas do Louriçal e Alpes, as pioneiras de café na provincia de Minas Gerais. Ao alcançar Vassouras a estrada do Comercio transformaria o café na principal fonte de exportação do Brasil em 1830.
D. João VI, que foi coroado rei no Brasil, nutria tanta admiração pelo capitão José Antonio Barbosa, que passou a trata-lo pela alcunha de "Capitão Tira Morros"! Desde o tempo inicial da regencia no Brasil, o monarca testemunhou inumeras obras realizadas pelo sudito modesto e agradecido, que mais tarde acrescentaria ao nome, o apelido real.
O capitão Tira Morros não teria a presença de D. João VI no palanque durante a inauguração da ponte de madeira e base de pedra - ligando Rio e Minas - sobre o rio Paraibuna no ano de 1824. Obra de grande porte para a época, a ponte ainda existente, liga Simão Pereira em Minas Gerais e Mont Serrat no Rio de Janeiro. A mesma foi inaugurada por D. Pedro I no mesmo dia em que Luis Barroso Pereira chegava ao Rio de Janeiro procedente do Recife para encontrar com imperador e tratar dos assuntos conflitantes da "Confederação do Equador".
Com a morte de D. João VI ocorrida em 1826 houve grande consternação do capitão "Tira Morros" e todo o clã Barroso Pereira e Carvalho. As noticias anteriores que chegavam de Lisboa já eram inquietantes e tristes, uma vez que, no Brasil era conhecida a perda de poder do grande estadista frente aos constitucionalistas no parlamento portugues.
A morte de D. João VI no "Paço da Bemposta" nas cercanias de Lisboa, muito provavelmente contribuiu, para que os agradecidos suditos perpetuassem o nome do palacio,local de sua morte, à fazenda pioneira do vale do rio Calçado na margem do "Caminho do Mar de Espanha". O palacio da Bemposta foi erguido por determinação de Catarina, rainha portuguesa da Inglaterra, que após viúva e sem filhos de Charles II, retornara à sua terra natal durante o reinado de seu irmão caçula D. Pedro II de Portugal.

sábado, 14 de janeiro de 2012

PAMPULHA

A denominação mais antiga de "Pampulha" é encontrada no texto da obra "Auto da Barca do Inferno" de Gil Vicente, poeta e dramaturgo portugues (1465/1536) que transgrediu costumes medievais, tornando-se ícone do teatro portugues renascentista. Sua obra foi pautada pela crítica social retratando costumes, dramas e vicios de seu tempo.
A denominação surge no dialogo entre o "Parvo e o Diabo", quando o penultimo responde ao convite ao inferno, citando "Pelourinho da Pampulha" em meio a citações escatologicas para designar o mesmo... Pode-se concluir que um local de pelourinho, por si, já apresenta a conotação de sofrimento. Alem desse aspecto o local do Pelourinho da Pampulha na Lisboa daquela época ficava em uma antiga zona portuaria, atualmente mais afastada do atual porto de Lisboa devido a sucessivos aterros. Na época dos grandes descobrimentos, certamente ali no "Pelourinho da Pampulha" ocorriam os castigos, especialmente após o desembarque das longas empresas das rotas da África, Ásia e do Brasil.
O termo Pampulha aparece pela primeira vez no Brasil como denominação de um "posto de guarda e registro" da corôa portuguesa situado na margem do "Caminho Novo", próximo ao antigo arraial de Sebolas. Por força da própria historia, tal lugar ainda é vastamente citado utilizando-se a denominação antiga, desprezando-se desse modo, a denominação "Inconfidencia" que faz referencia ao atual 2º distrito do município de Paraiba do Sul. A ultima denominação é pertinente aos fatos históricos que envolveram a figura de "Tiradentes", uma vez que, depois de sua morte no ano de 1792, o martir teve uma unica parte de seu corpo depositada em urna debaixo do altar da capela de Sant'Anna de Sebolas, que já não existe. Posteriormente a esse fato, o lugar ficou conhecido por muito tempo como "Sant'Anna de Tiradentes".
O posto de guarda da Pampulha foi presumivelmente erguido na gestão Gomes Freire de Andrade, o visconde de Bobadela, então vice rei do Brasil em meados do séc. XVIII. Nessa época a colonia ainda remetia à metropole a cota de 100 arrobas anuais de ouro. No entanto, o contrabando era intenso, fato esse que obrigou a metropole tentar refrear o desvio do precioso metal em local mais próximo ao Rio de janeiro. Até então o registro mais próximo para verificação de passaporte e inspeção entre o Rio de Janeiro e a capitania de Minas era o de Matias Barbosa. Posteriorment, este foi desativado, passando a funcionar no antigo posto de guarda do Paraibuna que fora edificado por Tiradentes no ano de 1783. O mesmo ainda se encontra presente no local, bem próximo a ponte construida pelo "Capitão Tira Morros" ligando o Rio de Janeiro e Minas Gerais; inaugurada por D. Pedro I no ano de 1824.
Como se sabe, a vila da Paraiba ficava situada a meio caminho da jornada entre o distrito aurífero e o porto do Rio de Janeiro, desse modo, o local escolhido próximo ao arraial de Sebolas era o mais correto sob o ponto de vista da logistica da longa viagem sobre mulas. Na parada da Pampulha, especialmente as autoridades de maior relevancia no governo da colonia faziam a sua rotina de descanço, assim como, a troca (muda) de animais para prosseguimento da viagem em ambos os sentidos. Praças e furrieis se ospedavam em edificações que não mais existem; que ficavam situadas entre o predio principal e a antiga cadeia, que persistiu ao tempo, por ser totalmente edificada em pedra. Do predio principal, somente existe a fachada em pedra, uma vez que, por volta de 1963, o mesmo que era de pau a pique, foi posto abaixo para venda de madeira e telhas.
A rota que ficou conhecida como "Caminho do Mar de Espanha", ligando o antigo arraial do Cágado - atualmente municipio de Mar de Espanha, MG - ao Rio de Janeiro, teve necessariamente que ser direcionada ao posto da Pampulha, seu destino final. O "Caminho do Mar de Espanha" foi a primeira rota auxiliar do "Caminho Novo" a ser oficializada ainda no século XVIII pela coroa portuguesa. Aredita-se que a via tenha surgido a partir de uma antiga trilha de contrabando de ouro, inicialmente partindo de Minas, e na altura da travessia do rio Paraiba do Sul, conduzia forasteiros atraves do "sertão desconhecido" da coroa, na direção de Inhomirim e Magé. Teria o "Capitão Tira Morros" então ligado essa via a Sebolas, desde a margem fluminense do dito caminho, entre Minas e Rio de Janeiro. Esse fato, se verdadeiro, explicaria, justamente nessa época, o inicio da exploração da banda leste da antiga vila da Paraiba, com a edificação dos "Portões", onde era cobrado o pedagio pela passagem em terras particulares. Surgiria posteriormente então na primeira década do séc. XIX, a fazenda que recebeu o nome de Bemposta, edificada por José Antonio Barbosa - capitão Tira Morros - e sua esposa Mariana Jacinta de Macedo, que enviuvara do capitão Antonio Barroso Pereira, o verdadeiro requerente daquelas sesmarias. Posteriormente, surgiria na margem da antiga trilha mencionada daquele sertão, após a travessia do Paraiba em direção sudeste, a fazenda Sant'Anna edificada em 1813 por Magadalena Maria Barroso Pereira e seu marido Damaso José de Carvalho.
Infelizmente desde o dia 25 de julho de 2008, após eu ter remetido correspondencia ao Ministerio da Cultura e Ministerio Publico Federal, no sentido de uma tomada de posição do governo federal relativamente ao tombamento daquele sitio historico único do "Caminho Novo" na "Variante Proença", nada foi feito até hoje. Após varios contatos com o IPHAN de Petrópolis, autarquia indicada pelo Ministerio da Cultura para que tal tarefa fosse levada a termo, tudo continua como estava. Recentemente aquele sitio arqueologico foi adquirido para ser transformado em um aras particular, sem que o IPHAN tenha tomado qualquer iniciativa, mesmo após eu ter escrito carta a sua diretora regional, srª Érika Pereira Machado, que nunca retornou dando a menor satisfação. Alem disso, a prefeitura de Paraiba do Sul, maior interessada na preservação de seu mais antigo patrimonio histórico existente, nunca deu a menor importancia à Pampulha e seu entorno.
De qualquer modo, a carta direcionada aos órgãos publicos federais citados com fotografia que realizei antes e depois dos estragos realizados pelo vendedor daquele sito historico, está registrada em cartório no minicípio de Petrópolis. Fica registrado aqui, que o IPHAN e a Prefeitura de Paraiba do Sul, são os orgãos responsaveis pela preservação daquele único e precioso sitio historico da Pampulha, uma vez que, houve delegação do Ministério Público Federal para que providencias fossem tomadas.